Mistel 1 – Ju88A-4 italeri – O incrível Mistel (Guilherme Castro)

Em 24 de junho de 1944 os marinheiros a bordo da fragata britânica HMS Nith não acreditavam no que os seus olhos viam. Ao longe avistava-se um estranho avião rumo  a embarcação. Ao se aproximar o aparelho iniciou um voo picado em grande velocidade e, depois, dividiu-se em dois. A parte menor virou, afastando-se bruscamente dos tiros da artilharia antiaérea, enquanto a parte maior continuava a aproximar-se. A enorme bomba com asas e dois motores acertou em cheio o lado direito do navio, matando imediatamente 10 marinheiros e deixando quase 30 feridos. Esse foi o primeiro ataque do Mistel, uma arma experimental da Alemanha durante a Segunda Guerra Mundial. Quanto à fragata, por sorte não afundou e continuou navegando. Outros três navios ingleses também foram atingidos, mas sofreram danos mínimos, sem deixar vítimas. Era o nascimento de mais uma arma alemã, em seu desespero de virar a maré da guerra a seu favor. O objetivo do Mistel com tamanha carga de explosivos era destinado a alvos grandes, reforçados e bem defendidos, como navios e pontes. O conjunto era a única alternativa da Alemanha para missões de bombardeiro estratégico de longo alcance, uma vez que o país não possuía uma aeronave com tais características.

Mistel – Derivado do germânico misteltoe, é o termo como ficou conhecida esta arma aérea alemã empregada nas fases finais da II Guerra Mundial, sendo formada por um conjunto de dois aviões. Uma aeronave menor tripulada transportava consigo outra maior, não tripulada. O aparelho não tripulado era carregado com explosivos, transformando-se então em uma enorme “bomba voadora“. As primeiras experiências foram realizadas no famoso KG 200 da Luftwaffe, com um avião Focke-Wulf Fw-56  levando o planador de transporte DFS 230. O piloto conduzia esta bomba até próximo do alvo, quando era lançada. Uma vez que só foi efetivamente usado em pequenas ações isoladas, não afetou o resultado da guerra. A combinação de duas aeronaves voando em conjunto era problemática. Uma de suas deficiências era a baixa velocidade do conjunto que  o tornava vulnerável aos aviões de caça aliados.

O Mistel e outras ” Armas Milagrosas ” (Wunderwaffe) como as bombas voadoras, o avião foguete Me 163 Komet,  Me 162 e   o caça a jato Me 262 , foram frutos do desespero frente a derrota cada dia mais próxima. . Inspirado pela leitura do livro “ Luftwaffe Mistel Composite Bomber Units “, do autor Robert Forsyth, iniciei o projeto de montagem.

MISTEL 1 Ju 88A-4 da ITALERI

A fabricante italiana Italeri lançou este interessante conjunto no ano de 1.996, sendo reunidos em uma só caixa dois kits. Com o código 072, adquiri em um mercado de pulgas há algum tempo, acredito que o antigo dono ficou apenas com o BF 109F, por ser um molde mais novo, em baixo relêvo. O molde do Ju 88 é mais antigo, em altíssimo relevo. Bom para mim, que sempre quis fazer um Mistel à hélice ! Portanto, os dois conjuntos de peças que vieram eram os que desejava. Para completar o conjunto, já que o Bf-109 veio faltando, recorri a um velho e encostado produto, também da Italeri, um FW 190 A8/F que estava servindo apenas para teste de pintura. Felizmente, tinha todas as peças, o que me poupou de abrir um kit novo em folha.

Montando o FW 190 A8/F Escala 1/72

Como já havia rebaixado os relevos das asas, tive de completar o trabalho, na parte inferior e nas metades das fuselagens. A cor interna foi pintada em RLM 66 e os porões de rodas e portas dos trens, hastes e bequilha no padrão RLM 02. A montagem foi tranquila, pois é um kit simples, próprio para quem está iniciando no hobby. Depois de tudo pronto, passei uma camada de branco no “queixo “ do motor e topo da deriva, onde  logo em seguida apliquei a cor “ Gelb “ ( amarelo ) RLM 04. Depois de isolado, fiz um rápido pré shade em preto fosco em todas as linhas de painéis. A parte inferior e as laterais foram pintadas na cor RLM 76, que depois de devidamente isoladas, receberam a camuflagem em RLM 74 e RLM 75. Os efeitos nas laterais foram usados as cores RLM 70 e RLM 71. Antes de aplicar os decais de minha caixa de sobras, fiz um leve “ wash “, com tinta preta da Valejo diluída em água para realçar um pouco mais as linhas de painéis, escapamentos e …pronto, considerei finalizado o FW 190.

Montando o Ju 88 A-4

Pela idade do molde, até que os encaixes são bem satisfatórios, exceto o alinhamento das asas com os conjuntos dos motores, que é um pouco crítico. Fora isso, a montagem é muito fácil, principalmente porque não existe interior para ser montado ou parte transparente ( exceto o farol de asa ) para ser isolado com fita protetora.  O interior dos porões de rodas, portas protetoras, hastes dos trens de pouso e bequilha foram pintados na cor RLM 02 da marca Aerotech. Com material de pesquisa à mão, fiquei na eterna dúvida quanto a pintura, pois o conjunto Ju 88 e FW 190 era o conjunto Mistel 2, portanto, foram horas pesquisando a história e fotos em P & B, para decidir qual o esquema de camuflagem seria usado.  Enquanto escolhia as cores a serem aplicadas, fiz um pré shade na cor preta em todas as linhas de painel e rebites, Por fim, optei em destacar mais a parte principal do Mistel, a sua carga explosiva. Assim, pintei em RLM 02 a parte principal, onde iam as duas toneladas de explosivo e o seu agulhão detonador em prateado Mr. Color 08. A parte inferior das asas e fuselagem foi aplicada a cor RLM 65, em seguida uma leve camada na cor RLM 76 para realçar a ondulação de cores. No dia seguinte, protegi a parte pintada e passei a primeira camada da parte superior da camuflagem, usando a cor RLM 70, em seguida, com o resto da própria tinta, adicionei um pouco de cinza e fiz uma rápida aplicação sobre a mesma superfície, para dar uma quebrada na cor, imitando desgaste natural. Posteriormente, após isolar a parte anteriormente pintada, apliquei a cor RLM 71 repetindo o processo com efeitos em tom mais escuro. Após remover todas as máscaras protetoras, fiz alguns afeitos com tinta preta e Tire Black nos escapamentos e um pouco de giz pastel, aplicado com um pincel de cerdas duras em alguns pontos do kit. Para selar todo o trabalho, uma boa mão de Future em ambos os kits. Estava ansioso para ver o conjunto montado e minha curiosidade foi recompensada. Ficou um trabalho bem vistoso, superando minhas expectativas e agora o conjunto Mistel 1, que se transformou ( pelo FW 190 ) em Mistel 2, vai se juntar ao Mistel 5 ( Arado E 377A + He 162 ) da Dragon, na mesma escala.

Guilherme Castro

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